10.2.15

Só três honestos até o momento???

Acompanhando o desenrolar das operações "Lava Jato" e agora da "My Way" - que espero não serem as últimas ou únicas - lembrei-me de uma passagem do livro do Gênesis (Gn 18, 20-32), quando Deus anuncia a Abraão a destruição de Sodoma e Gomorra. Abraão, talvez temendo pela vida de seu sobrinho Lot, interpela a Deus e negocia com ele a preservação das cidades, na condição de que lá sejam encontrados homens justos. Começa com cinquenta, mas consegue negociar com o Senhor até um mínimo de dez. Dez justos salvariam as cidades, e entretanto nem isso foi encontrado...

No mundo atual, nos escâdalos que não cessam, e que, infelizmente, sabemos que já vêm de longa data, fica a pergunta: ninguém desconfiava de nada? Ninguém sabia? Os que tramitavam os documentos, os que encaminhavam os pagamentos, os que conferiam os contratos... Ninguém? Será que os diretores - e ex-diretores, delatores premiados, faziam tudo por si, em nada dependendo de ninguém, nenhum subalterno?

Em uma empresa de grande porte, como é a Petrobrás, Diretores digitam e revisam contratos? Assinam cheques ou sentam-se à frente do computador para, acessando o home banking, fazer pagamentos? Elaboram planilhas de acompanhamento de obras e de projetos? Redigem os relatórios e atas de reunião? Claro que não. Obviamente que não, isso é fato. E, no entanto, até o presente momento, somente dois funcionários se dispuseram a contar o que viram, o que descobriram - e o que sofreram por terem denunciado as falcatruas: Venina e Fernando. E mais uma ex-Gerente da Arxo, até onde sei... Serão somente esses três os justos? Aqueles que, por seus valores, seu credo ou sua determinação, mesmo sabendo do risco que corriam, ousaram levantar sua voz contra os malfeitos que - ressalte-se, perduram por mais de doze anos? Ou que por vingança, ou arrependimento - sei lá - resolveram trazer à luz os fatos, as provas e o que mais sabem ou presenciaram?

Alguns podem alegar desconhecimento, outros podem alegar o medo de serem prejudicados. Há várias formas de tentar se livrar da cumplicidade, mas custo a crer que haviam só ingênuos e inocentes nessa história. Talvez muitos tenham vivido num alto engano, imaginando que os chefões estavam levando a empresa a patamares nunca vistos antes, comprando o discurso barato e mentiroso do pré-sal... Talvez outros, crédulos e doutrinados, ficassem catatônicos frente a um dedo apontando para a foto do "Cappo de tutti cappi" na parede e à fatídica indagação: "Você quer derrubar todo mundo?"... Talvez alguns almejassem cair nas graças dos poderosos e "subir na hierarquia", enquanto outros temessem o contrário, isto é, ao exigir a defesa do direito e do justo, perder a boquinha... Não importa. Todos podem considerar-se cumplices do que está aí. É duro ouvir isso? É! Mas é irrefutável.

Sinto o incontrolável desejo de transportar-me para tempos imemoriais, e caminhando no deserto ao lado do Senhor, perguntar-lhe: "Senhor, se houverem cinquenta justos na Petrobrás, ainda assim o Senhor permitirá a sua destruição?"... Mas dois pavores me assustam: primeiro, dados os números que tenho até agora, teria que baixar a negociação com o Senhor a níveis impensáveis... E segundo, seriam muitas as negociações: Correios, Eletrobrás, BNDES, obras da Copa...  Como cristão, creio que a misericórdia do Senhor é infinita, mas estendê-la dessa forma me colocaria mais no papel de Satanás.