11.5.17

Não, não vou me calar!

O dia de ontem, 10/05/2017, foi sui generis e muito importante, embora o evento do depoimento do Lula em si não se tratasse de nada absurdamente normal, como fez questão de ressaltar o próprio Juiz Sérgio Moro.

As redes sociais e a mídia tentaram e mostraram uma “polarização”, tal qual nas últimas manifestações e no processo de impeachment. O presidente Michel Temer criticou essa polarização dos nossos dias, chamando-a de “embate permanente”, e pedindo o fim da “raivosidade” da sociedade, que seria uma forma de pacificar o país...

Alguns amigos também fizeram questionamentos à minha postura de enfrentar o debate, contra argumentar e gerar polêmicas inúteis com pessoas que não estão dispostas a enfrentar a realidade e aceitar a verdade: que fomos assaltados por uma cleptocracia que corrompeu os fundamentos de nossa sociedade e de nossa nação.

Pois bem. Toda essa atmosfera me fez pensar novamente a esse respeito, pois há algum tempo eu próprio já vinha me questionando: vale a pena? Compensa enfrentar incansavelmente as mentiras e as meias-verdades, as respostas corretas para as perguntas erradas, o cinismo, a arrogância, a desfaçatez e a completa falta de caráter de alguns próceres, que permeiam todo o tecido social e ecoam no discurso vazio e robotizado de boa parte do povo brasileiro, dos mais cultos e intelectuais aos mais humildes?

Há algum tempo eu assisti pelo Youtube a uma audiência do Papa Francisco, na qual ele ressaltava o dever cristão de participar da Política – com “P” maiúsculo - ou seja, buscar o interesse de todos, o bem comum. Segundo Sua Santidade, esta seria a maneira mais nobre e efetiva de praticar a caridade, uma das maiores – senão a maior – virtudes cristãs. E eu concordo. A boa política visa o bem comum, o bem de todos!

Algumas palavras de personagens da história – e da minha história – também fizeram parte dessa reflexão. Entre elas, a de Martin Luther King: “O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O que me preocupa é o silêncio dos bons. ”.  Lembrei-me de uma música dos tempos do grupo de jovens na Igreja de Nossa Senhora de Fátima, em Varginha: “O profeta”, baseado na passagem do Profeta Jeremias (Jr 1,5):
Tenho de gritar, tenho de arriscar, ai de mim se não o faço!
Como escapar de Ti? Como não falar se Tua voz me queima dentro?
Tenho de andar, tenho de lutar, ai de mim se não o faço!
Como escapar de Ti? Como não falar? Se Tua voz arde em meu peito.

Também fez parte desse momento a passagem do procurador Deltan Dallagnol em seu livro, na qual refere-se às suas experiências frustradas de ver prevalecer a justiça, e a súbita vontade de desistir. Quase que uma reprise do “Triunfo das Nulidades”, de Ruy Barbosa, texto ao qual meu pai sempre se refere quando falamos de política... Uma amiga minha chamou-me a atenção pela paciência e frieza do juiz Sérgio Moro no interrogatório do Lula, insistindo e persistindo perante a desfaçatez e empáfia do fulano...

Tudo isso junto e misturado só fez reforçar minha convicção de que não podemos desanimar: foi justamente por confundir a política com civilidade – sim, um de seus sinônimos – que deixamos a gritaria dos poucos maus (enganados, auto enganados, ou simplesmente pilantras mesmo) prevalecer sobre o silêncio da imensa maioria dos bons, reforçando o discurso de Luther King. Como já dizia o famoso Marquês de Maricá, “Aprovamos algumas vezes em público por medo, interesse ou civilidade, o que internamente reprovamos por dever, consciência ou razão”.

Não, não vou me calar. Vou enfrentar até o fim dos meus dias a mentira, a falta de caráter, a corrupção. Para os desavisados ou dissimulados, incluídos aí V. Excia., o presidente Temer, não se trata de ódio ou “raivosidade”, mas de indignação. Afinal, como disse Santo Agostinho, “A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las”. Não me faltam motivos para a indignação, e não me falta coragem para enfrentar a longa e árdua batalha à qual me lancei! 

E, para finalizar, mas também justificando minha tomada de posição e tentando motivar todos aqueles que ainda permanecem na dúvida ou na “zona de conforto”, vai aqui outra citação que conheci no maravilhoso filme "Tears of Sun" - Lágrimas do Sol (2003), com Bruce Willis e Mônica Bellucci, que ao final exibe a frase de Edmund Burke (1729 - 1797) “Para o triunfo do mal só é preciso que os bons homens não façam nada.”