Eu já tinha assimilado a idéia de não participar das discussões políticas sobre o segundo turno em Curitiba. Votei no Greca no primeiro turno e votarei nele novamente. As razões para tanto são simples: é uma pessoa de fé, educado, culto, inteligente e contra quem não pesam acusações. Além disso, já foi prefeito de Curitiba e foi um bom prefeito. Em uma época em que o PT ainda posava de vestal e infernizava a vida de seus adversários, o Greca fez uma boa gestão, sobreviveu sem maiores danos e ainda elegeu seu sucessor.
Com não gosto de tomar decisões sem firmar uma posição, sem conhecer bem a questão, fui ler um pouco mais sobre o outro candidato, sua vida, realizações, propostas... Quase um dever de ofício de todo eleitor, sumariamente negligenciado pela maioria, infelizmente. Pois bem. Não consegui encontrar nada que motivasse uma mudança de minha opção.
Ouvindo a propaganda eleitoral retomada na último sábado, 15/10, consolidei minha opção. O principal motivo é a mentira, a arma do diabo, a velha forma rasteira de fazer política e enganar as pessoas. Na propaganda desse candidato ouvi a surrada frase "você não vai votar em quem não gosta de pobre, não é?", remetendo à fatídica história contada pelo Greca sobre o dia em que vomitou ao levar um pobre em seu carro para ser atendido pelo serviço social. Com isso, o Greca garantiu para si a pecha de ser elitista, nojento, excludente e "que não gosta de pobre". Para quem, como eu, foi procurar conhecer todo o contexto e a forma na qual essa frase fatal foi proferida, não resta dúvida que a fala do Greca remetia ao reconhecimento do difícil e importante trabalho de assistência social, ao amparo aos necessitados, levado a termo por pessoas que sacrificam suas vidas em prol dos carentes e abandonados, às quais ele honrava e expressava admiração em sua fala. Somente por leviandade, burrice ou muita má-fé – infelizmente, coisas que abundam nesses tempos obscuros em que vivemos - alguém que ouvisse toda a história poderia depreender que se tratava simplesmente de asco, de nojo ou repugnância aos pobres (no caso em questão, certamente mais um miserável, mendigo ou morador de rua).
Muitos dos que fizeram e fazem cara de desaprovação e torcem o nariz para o que foi veiculado a exaustão – fora de contexto e ainda reforçando o lado pejorativo com uma locução empolada - jamais se aproximariam de um "pobre" nas condições em que o Greca o fez! Certamente desviam-se das pessoas que dormem sob as marquises na Rua XV, na Cruz Machado ou na Sete de Setembro (entre tantas outras, infelizmente!) para não sentir o mau cheiro que exala daqueles amontoados de seres humanos ao relento. Dizer que isso é nojo é fácil: quero ver encarar! Quero ver aproximar-se de uma dessas pessoas, cuidar dela, dar-lhe banho, alimentá-la, dar-lhe carinho e atenção! E era exatamente a isso que o Greca se referia em sua fala. Que ele não tinha essa competência! Que, como a imensa maioria das pessoas – grande parte entre os que agora o acusam, o julgam e o criticam, explorando eleitoralmente o episódio – sentiu-se mal diante de tal quadro degradante. Eu mesmo afirmo que sinto-me assim, quando estou próximo de pessoas de rua, mendigos, que passam dias sem banho, sem o mínimo de higiene... E ainda sofro por pouco fazer para tirá-los daquela situação em definitivo, não apenas momentaneamente, não apenas superficialmente...
E aí vem alguém posando de ser superior! Ora, bolas! Deixo aqui um desafio: faça a mesma experiência! Socorra um mendigo, dentre os muitos que encontramos atualmente em Curitiba! Coloque-o em seu carro, e diga, com sinceridade que sentiu-se muito bem, que aquele odor da miséria transformou-se em perfume! Oh, maldita hipocrisia!
Ainda na mesma propaganda eleitoral o outro candidato vem propondo uma solução inovadora na área da Saúde: o cartão PAS, que reuniria as principais informações sobre o usuário do sistema público de saúde em Curitiba. Pois bem, isso já existe! Em 1999, a prefeitura implantou nas Unidades de Saúde o Prontuário Eletrônico - que contemplava também o Cartão Qualidade Saúde - interligado ao Laboratório Municipal, à Central de Procedimentos - responsável por consultas e exames especializados - e à Central de Regulação. Eu mesmo participei da construção da primeira versão do sistema e sua implantação em duas Unidades de Saúde, à época. Depois, em 2012, o modelo foi atualizado. Ou seja, o candidato propõe implantar algo que já existe há bom tempo.
Entre essas e outras atitudes, além das alianças já tornadas públicas, o candidato em questão deixa transparecer que é, ele próprio, adepto e praticante da velha política, calcada em manipulação e mentiras, tal como muitos aos quais ele se aliou.
Nos últimos anos reaprendemos a duras penas o que acontece quando escolhemos, para nos governarem, pessoas exímias nos discursos recheados de falácias e mentiras. Nossa triste situação atual, como sociedade, como nação e como país, é a prova irrefutável de que devemos priorizar o combate à mentira e à velha política.