28.5.14

A falácia da segurança pública.


Passaram anos - senão décadas ou talvez um século - martelando em nossas cabeças que a questão da falta de segurança era uma questão social. Os menos favorecidos caiam na marginalidade premidos por suas necessidades mais básicas, o que os impelia ao cometimento de pequenos crimes, cuja repressão alimentava o moto-contínuo da maldade e do sentimento de vingança, inveja e ódio... E então formava-se o cadinho social, a gênese que conduzia homens puros de coração a praticar todo o tipo de mal, abriam-se-lhes as portas do inferno e da perdição! A despeito de existirem milhões - bilhões até -  de pobres e miseráveis lutando para sobreviver com o mínimo de dignidade, de honestidade e de honradez, e apesar de existirem infindáveis criminosos da alta roda, privilegiados que optavam por uma vida bandida, o discurso se manteve -  e ainda encontra eco em boa parte das cabeças pensantes, falantes e atuantes, aqui nessas terras tupiniquins e alhures. Mas havia uma solução! Uma não, várias!!! Distribuição de renda! Políticas afirmativas! Vamos corrigir em alguns anos o que erramos por décadas, séculos, milênios de história... Toda a maldade e do egoismo humano! Como? Repartindo desigualmente, corrigindo a distorção causada pelo esforço e pelo mérito e tornando-nos todos desigualmente iguais, ora essa! Mágica solução, tal como na fábula do reformador do mundo, colocamos as abóboras nas frondosas jabuticabeiras e as jabuticabas nos raminhos das abobreiras! Pusemos as vacas para voar no céu infinito e os minúsculos pássaros para pastar em cercados. E assim, corrigimos essas distorções mundanas e humanas...

Depois veio o discurso pacifista. Primeiro nos convenceram que nossas crianças assimilavam a violência assistindo filmes de caubóis e índios, faroeste, policiais, guerras... Heróis de arma na mão? Um despropósito!!! Brincar com armas de fogo de brinquedo? Oh! Que horror! Ensinarmos nossos filhos a matar com arco e flecha ou espadas de brinquedo, estilingues e revólveres de espoleta? Crime!!! Onde já se viu??? Então foram banidas todas estas aberrações que acalentaram nossa infância e adolescência criminosa por séculos a fio... Armas de fogo de verdade então? Criminosos em potencial às pencas? Nãoooooo !!! Jamais !!! Desarmamento já! Entreguem suas garruchas, espingardas e revólveres - alguns em posse das famílias por gerações a fio - e tirem a morte de dentro de suas casas, das ruas, do trânsito, dos bares, das festas!!! E lá seguimos o canto da sereia, e fomos reformando o mundo... Sempre em busca de um mundo melhor!

Caminhamos - ou melhor, dirigimos - um pouco mais, e vieram os apelos contra os crimes de trânsito causados pelo consumo de bebidas alcoólicas. Criou-se o novo código de trânsito, multas em profusão, cassação de carteiras, etc... Veio a lei seca: uma taça de vinho e você transforma-se em um monstro assassino cuja intemperança e potencial destrutivo só podem ser comparáveis às do incrível Hulk - se bem que alguns de nós ficamos vermelhos, e não verdes, com uma taça de vinho! Estatísticas e estudos, propaganda, blitz pra todo lado, operações "isso e aquilo", multas em profusão... E lá fomos nós dirigindo no sentido do mundo perfeito... Se bem que alguns perderam a carteira e foram de táxi, uns poucos de ônibus mesmo, enquanto pouquíssimos foram a pé!

Mas... O tempo é o senhor da verdade! E passados poucos anos, nossa "reforma da natureza" conduzida pelos mais puros e sinceros ideais igualitaristas, desarmamentistas, abstemistas e outros "istas" - esquerdistas, enfim - mostra continuamente seus resultados anos após ano. A criminalidade explodiu. Somos mortos como insetos em incêndios florestais. Mais de 50.000 por ano só com armas de fogo... Mais de 50.000 por ano em acidentes de carro... Embora presos em nossas casa - com toque de recolher implícito na maioria das cidades, mesmo as mais pequenas - continuamos sendo mortos na frente de nossos familiares, nas portas de nossas casas... Morremos no ambiente de trabalho, no trânsito, nos ônibus, nas ruas, nos estacionamentos, em cinemas, nas escolas... Morremos, morremos, morremos!!! Os que escapam da morte e dos danos físicos morrem psicologicamente - ficam sequelas que nem mesmo o tempo consegue minorar.

E agora, meus caros? E agora, "nova ordem mundial" progenitora de soluções miraculosas e reformadora do mundo? Qual é a nova receita? Devemos nos extinguir como raça para preservar a "beleza natural"? Devemos abdicar de mais alguma coisa em proveito do "novo mundo possível"?

Como não ouço nenhuma resposta que não seja mais um canto de sereia, mais uma falácia, vai aqui minha modesta opinião: chega de "progressismo". Vamos voltar a chamar as coisas pelo nome correto, vamos voltar a fazer uso do livre arbítrio e da responsabilidade. Vamos dar aos seres humanos a liberdade de escolher entre o bem e o mal, e a responderem por suas escolhas na proporção do que lhe causarem e causarem a outrem. Chega de paternalismos, interferências do estado na vida privada. Chega dessa busca desmedida pela igualdade, pois se somos todos iguais enquanto espécie, ao mesmo tempo somos únicos como indivíduos.

A falácia da segurança pública demonstra isso: enquanto tratamos cidadãos de bem como bandidos, e bandidos como cidadãos de bem - ou até melhor que isso - os bandidos nos tratam como um rebanho, sempre à disposição para oferecer mais uma vítima. Já dizia um ditado russo bem apropriado: "Vista-se de cordeiro e os lobos não tardarão em aparecer!".

2 comentários:

Antonio Cristaldi disse...

Mas de uma clareza e lucidez ímpares!
Parabéns pelo comentário!
Grande abraço!
Antonio Carlos Cristaldi

Anônimo disse...

Li e salvei seu comentário do blog do Reinaldo. Vale como uma aula. Grande abraço. Lígia.