O dia de ontem, 10/05/2017, foi sui generis e muito importante, embora o
evento do depoimento do Lula em si não se tratasse de nada absurdamente normal,
como fez questão de ressaltar o próprio Juiz Sérgio Moro.
As redes sociais e a mídia
tentaram e mostraram uma “polarização”, tal qual nas últimas manifestações e no
processo de impeachment. O presidente
Michel Temer criticou essa polarização dos nossos dias, chamando-a de “embate
permanente”, e pedindo o fim da “raivosidade” da sociedade, que seria uma forma
de pacificar o país...
Alguns amigos também fizeram
questionamentos à minha postura de enfrentar o debate, contra argumentar e
gerar polêmicas inúteis com pessoas que não estão dispostas a enfrentar a
realidade e aceitar a verdade: que fomos assaltados por uma cleptocracia que
corrompeu os fundamentos de nossa sociedade e de nossa nação.
Pois bem. Toda essa atmosfera me
fez pensar novamente a esse respeito, pois há algum tempo eu próprio já vinha
me questionando: vale a pena? Compensa enfrentar incansavelmente as mentiras e
as meias-verdades, as respostas corretas para as perguntas erradas, o cinismo, a
arrogância, a desfaçatez e a completa falta de caráter de alguns próceres, que
permeiam todo o tecido social e ecoam no discurso vazio e robotizado de boa
parte do povo brasileiro, dos mais cultos e intelectuais aos mais humildes?
Há algum tempo eu assisti pelo
Youtube a uma audiência do Papa Francisco, na qual ele ressaltava o dever
cristão de participar da Política – com “P” maiúsculo - ou seja, buscar o
interesse de todos, o bem comum. Segundo Sua Santidade, esta seria a maneira
mais nobre e efetiva de praticar a caridade, uma das maiores – senão a maior –
virtudes cristãs. E eu concordo. A boa política visa o bem comum, o bem de
todos!
Algumas palavras de personagens
da história – e da minha história – também fizeram parte dessa reflexão. Entre
elas, a de Martin Luther King: “O que me preocupa não é nem o grito dos
corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O
que me preocupa é o silêncio dos bons. ”.
Lembrei-me de uma música dos tempos do grupo de jovens na Igreja de Nossa
Senhora de Fátima, em Varginha: “O profeta”, baseado na passagem do Profeta
Jeremias (Jr 1,5):
Tenho de gritar, tenho de
arriscar, ai de mim se não o faço!
Como escapar de Ti? Como não
falar se Tua voz me queima dentro?
Tenho de andar, tenho de lutar,
ai de mim se não o faço!
Como escapar de Ti? Como não
falar? Se Tua voz arde em meu peito.
Também fez parte desse momento a
passagem do procurador Deltan Dallagnol em seu livro, na qual refere-se às suas experiências frustradas de ver prevalecer a justiça, e a súbita vontade de
desistir. Quase que uma reprise do “Triunfo das Nulidades”, de Ruy Barbosa, texto
ao qual meu pai sempre se refere quando falamos de política... Uma amiga minha
chamou-me a atenção pela paciência e frieza do juiz Sérgio Moro no
interrogatório do Lula, insistindo e persistindo perante a desfaçatez e empáfia
do fulano...
Tudo isso junto e misturado só
fez reforçar minha convicção de que não podemos desanimar: foi justamente por
confundir a política com civilidade – sim, um de seus sinônimos – que deixamos
a gritaria dos poucos maus (enganados, auto enganados, ou simplesmente pilantras
mesmo) prevalecer sobre o silêncio da imensa maioria dos bons, reforçando o discurso
de Luther King. Como já dizia o famoso Marquês de Maricá, “Aprovamos algumas
vezes em público por medo, interesse ou civilidade, o que internamente
reprovamos por dever, consciência ou razão”.
Não, não vou me calar. Vou
enfrentar até o fim dos meus dias a mentira, a falta de caráter, a corrupção.
Para os desavisados ou dissimulados, incluídos aí V. Excia., o presidente Temer,
não se trata de ódio ou “raivosidade”, mas de indignação. Afinal, como disse
Santo Agostinho, “A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem;
a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las”. Não me faltam motivos para a
indignação, e não me falta coragem para enfrentar a longa e árdua batalha à
qual me lancei!
E, para finalizar, mas também justificando minha tomada de posição e
tentando motivar todos aqueles que ainda permanecem na dúvida ou na “zona de
conforto”, vai aqui outra citação que conheci no maravilhoso filme "Tears of Sun" - Lágrimas do Sol (2003),
com Bruce Willis e Mônica Bellucci, que ao final exibe a frase de Edmund Burke (1729
- 1797) “Para o triunfo do mal só é preciso que os bons homens não façam nada.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário