21.8.17

The final judgement

Ouço cada vez mais na 'lida diária' sobre o tal amadurecimento nas relações de trabalho, a humanização das empresas e a grande evolução dessa convivência entre 'empregado e patrão'.

É algo curioso: as empresas exigem de seus colaboradores nada menos que comportamento ético, honestidade, fidelidade, lealdade, transparência, disposição para o que der e vier, cordialidade no tratamento com os subordinados, pares e superiores, além, é óbvio, da competência e qualificação. Ok! Tudo isso é importante e muito pertinente. Mas e a recíproca? Seria essa mais uma 'via de mão única'?

A bem pouco tempo participei de um processo no qual, inicialmente, estava muito bem posicionado. Inexplicavelmente, entretanto, houve aquele 'esfriamento' nos contatos e a coisa toda deu em nada. Depois vim a saber que isso se deu por causa de 'informações negativas' a meu respeito obtidas em consulta a uma empresa para qual eu havia prestado serviço anteriormente. Como não gosto de deixar as coisas nesse estado, fui pesquisar. Apurei que a empresa que dera essa informação já havia me recomendado muito bem, anteriormente, mesmo sendo para uma concorrente sua! Qual fora então o motivo da 'mudança de opinião' ? Simples: no exercício de minha profissão, ajudei a 'concorrente' - para a qual eu agora trabalhava - em uma concorrência, na qual aquela - a das 'informações negativas' - também competia... Pode? Que grande pecado, não? E a ética? E os valores?

Agora, mais recentemente, um amigo bem próximo, depois de 'gozar' as merecidas férias, e retornando 'com todo o gás', recebeu o bilhete azul. Demitido. Isso também já aconteceu comigo. Daí pergunto: porquê fazer alguém sair de férias, 'gozar' suas férias, para depois informar-lhe da sua demissão? Há alguma economia nisso? Não seria o mais adequado informar o 'futuro demitido' antes, para que o mesmo usasse as férias em busca de recolocação, mesmo sendo isso algo desagradável? E ainda mais: por telefone!

São algumas coisas que não consigo entender, entre tantas outras. O porquê de, somente no momento da demissão, ser apresentada a 'ficha corrida', a relação de todos os 'pecados' do cidadão na outrora agradável convivência com a empresa. A cena toda fica parecendo o juízo final, o ' The Final Judgement', e o infeliz demissionário parece caminhar célere para o fogo eterno naquele momento...

E por telefone? Por e-mail? Seria para evitar o excesso de pessoalidade no tratamento. "Olha, meu caro, não sou eu, é a empresa que está te demitindo...", como se a empresa fosse um ser vivo com vontade e atitudes próprias...

Meus caros amigos da área de RH, por favor, me respondam: demitir por telefone ou e-mail, ou logo após o retorno das férias, ou na sexta-feira à tarde, ou no último dia do mês... Apresentar, nesse momento - e somente nele - a lista de erros cometidos... Caluniar, injuriar e difamar de maneira sórdida e rasteira, sob a cortina de proteção do anonimato... Essas e outras práticas ajudam a reforçar os laços deste complexo relacionamento? Que tipo de comportamento essas atitudes vão inspirar nos colaboradores dispensados e naqueles que permanecem?

Acredito sinceramente que não sejam práticas correntes de empresas e instituições que sejam dignas de receber esta denominação. Mas são reais. Isso é fato.

Com a palavra, os especialistas e os responsáveis...

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