6.1.08

Legítima defesa?

Não sou muito chegado a assistir as novelas, exceção feita às novelas de época, que, vez por outra, aguçam minha curiosidade, tratam de fatos históricos e premiam a visão com belíssimas paisagens e visitas a lugares históricos. Fora isso, de vez em quando "passo os olhos" para me atualizar sobre as tentativas de "reflexão moral" e dos novos modismos do "politicamente correto".

Foi numa dessas raras vezes que, junto com a Rogéria, minha esposa, vi um recente capítulo da atual novela das oito da Globo. Tratava da invasão de uma favela por um bando rival. Na favela invadida, uma "socialaite", um deputado e outros protagonistas. Lá pelas tantas, para fazer frente ao poderio bélico dos invasores, o "dono do morro" supreende a todos revelando um arsenal de guerra escondido sob um alçapão... Fiquei abismado primeiramente pela modernidade do arsenal: diferentemente dos M-16 e AR-15, lança-mísseis e artilharia anti-aérea que estamos acostumados a ver em poder dos narcotraficantes e donos de morro, parece que o "herói" em questão recebeu seu "carregamento" de algum museu das duas grandes guerras mundiais, ou de algum filme de guerra do saudoso John Wayne...

Mas a questão de que trato nesse post deve-se mesmo a uma frase do "deputado", sugerindo que o revide à invasão, mesmo com as armas de guerra obsoletas - e nem por isso menos ilegais - poderia ser considerado "legítima defesa"... Ora, ora, ora! Não é paradoxal? A defensora número um do desarmamento leva ao ar uma singela mensagem - quase sub-liminar, é claro, mas (propositadamente ou não?) colocada por um representante eleito pelo povo - de que eventuais revides (ou seria a tradicional guerra do tráfico nos morros do Rio?) podem ter, enfim, um aspecto legal: trata-se, por parte dos invadidos, da legítima defesa! E porquê não seria, então, "legítima defesa" a reação à uma invasão policial? Afinal, os "donos de morro" são tão queridos pelos moradores - a "comunidade", não é o que nos informam sempre? São quase uma família, e o morro é a sua casa!

Ah, sim, desculpem-me: é tudo ficção! E, diferentemente dos telejornais, dos plantões e das campanhas pró-desarmamento, não foram mostrados cadáveres e sangue correndo... Somente uma cena melodramática com a sempre brilhante Marília Pêra.

A "tese" da legítima defesa já foi - e ainda é, infelizmente - ostensivamente usada para justificar aberrações e monstruosidades dos mais variados formatos e nas mais diversas situações, incluindo a destruição das torres gêmeas, os atentados terroristas no Afeganistão, no Iraque e no Oriente Médio... Na "defesa" dos acampamentos de invasores criminosos do MST ameaçados de expulsão... Na "defesa" de invasores e destruidores do patrimônio alheio encastelados em instituições públicas e empresas... É tudo "legítima defesa", dizem os tresloucados que põem a ideologia e a burrice a serviço de criminosos disfarçados de redentores.

Pode parecer paranóia minha... Afinal, fazer análises de filmes e novelas é coisa da crítica especializada. Mas há certas ocasiões em que despropósitos, paradoxos e até mesmo possíveis "mensagens ocultas" ativam meus mecanismos de defesa - tal como uma reação alérgica - como que querendo me alertar de que há algo mais no porvir...

Afinal, em minha vida e em minha profissão fui aprendendo, aos poucos, que é bom estar atento aos sinais, aos detalhes - mesmo os aparentemente insignificantes - e às constantes tentativas de insulto à nossa inteligência. Principalmente por parte do Governo, dos políticos e dos meios de comunicação.

É bom estarmos atentos. Isso não é legítima defesa: é crime! E crime organizado. E muito bem organizado, por sinal. Mesmo que com armamento artesanal ou obsoleto...

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