2.8.05

Carta ao presidente.


Recebi este artigo por e-mail, e após contato com o autor, resolvi postá-lo aqui. Creio se tratar do pensamento quase unânime dos brasileiros em geral.

"SENHOR PRESIDENTE DA REPÚBLICA
(Ilton Carlos Dellandréa, Desembargador aposentado do TJRS)

O mandato que o povo brasileiro lhe outorgou foi para governar este país e promover seu desenvolvimento social, diminuindo a pobreza e a iniqüidade, melhorando as condições de vida dos cidadãos sofridos e calejados por más administrações anteriores.
O senhor se orgulha de fatos acidentais da sua biografia como se eles tivessem relevância na sua eleição. Mas tenha certeza de que foi alçado a esse posto não pelo fato de ser filho de pais analfabetos; não porque nasceu pobre e diz ter passado fome; não por ter sido sindicalista; não por ter perdido o dedo mindinho e se aposentado por isto; não por ter se valido dessas circunstâncias e ingressado na política; não por ter sido um perseguido político e até preso; não por ter sido fundador do PT. Se fosse assim haveria centenas de outros em iguais condições e teríamos que multiplicar os cargos de Presidente do Brasil.
O povo estava cansado da mesmice de administrações anteriores porque sempre foi ludibriado por acenos de melhores perspectivas que não ultrapassavam as porteiras da campanha eleitoral. Subir a rampa do palácio é muito significativamente um ato que importa em virar as costas para o povo e os presidentes levam isto ao pé da letra: esquecem suas promessas e se deixam levar pelos interesses partidários e das elites que o senhor diz combater mas que acolheu e protege.
Não tenho nenhuma prova de ato de improbidade cometido pelo senhor nem intenção de estar me comparando com quem quer que seja, nem com o rico que pode dispor de um veículo caro para dar de presente a um amigo nem com o pobre que mora numa favela e nunca terá condições de ter sequer um cavalo para puxar sua carroça de catador de papéis. Mas, de minha parte, outorgo-lhe procuração, ou a quem o senhor indicar, para investigar minha vida social, política e profissional e minhas contas-correntes, minhas fichas criminal e cível em todas as comarcas em que residi, desde que nasci e enquanto viver.
Garanto-lhe que encontrarão sentenças reformadas, decisões que tribunais consideraram equivocadas – nunca fui dono da verdade –, mas ninguém me acusará de qualquer atitude aética, desonesta ou imoral. A honra não é atributo exclusivo de pobres ou de ricos, de analfabetos ou intelectuais, de garis ou presidentes, de súditos ou de monarcas. A honra não pode ser mascarada; a honorabilidade pode.
Por isto, de igual para igual, tenho sim coragem de lhe dizer que o senhor não tem o direito de subir num palanque e tentar impor-se como dono absoluto da ética, da honestidade e da moral. O senhor não é o único nem o último brasileiro honesto. A grande maioria está na mesma situação que o senhor e eu. Estamos no mesmo nível de igualdade. Por isto ninguém, nem o senhor, tem autoridade de nos lançar advertências de palanque ou de nos desafiar promovendo-se às nossas custas.
A grande diferença – senhor Presidente – é que nem todos conseguiram juntar ao seu redor tantos homens que não detêm essas mesmas qualidades. Poucos presidentes deste país conseguiram se assessorar de tantos corruptos, de tantos desonestos, de tantos aéticos e amorais quanto o senhor conseguiu.
O senhor já é presidente. Nem que queira poderá ser mais do que isto pois já ocupa o cargo máximo da Nação. É preciso que se convença disto com rapidez porque o mundo no qual está apoiado está desmoronando. Muitos dos que estão lhe servindo de base estão caindo.
Por isto, ao invés da soberba do queixo empinado é bom que olhe, também, com humildade, para baixo, e veja onde põe os pés e por onde caminha. Caso contrário o senhor vai de roldão. Vai cair também. De cabeça erguida e dura, como uma estátua, mas vai cair.
(Ilton Carlos Dellandréa, Desembargador aposentado do TJRS)"

Um comentário:

Anônimo disse...

Obrigado, pela força. O objetivo é fazer chegar a carta ao conhecimento do maior número possível de pessoas. Abraços.